Quando a ansiedade transborda: entendendo a crise de pânico
- Maysa Yassutake

- 26 de set.
- 2 min de leitura
A ansiedade, na visão psicanalítica, não é apenas um sintoma a ser eliminado, mas uma experiência inevitável da vida mental, que aponta para conflitos internos e desejos inconscientes que buscam expressão e pedem por elaboração. Quando não encontram espaço nem palavra para serem expressados, podem retornar de forma intensa e avassaladora — como ocorre nas crises de pânico.

A crise de pânico surge como uma sensação de ameaça sem nome, acompanhada de fortes reações físicas como taquicardia, falta de ar, tremores, sensação de morte. Para a psicanálise, isso revela conteúdos emocionais e experiências traumáticas que não puderam ser elaborados no passado e retornam de maneira bruta, como descarga corporal, invadindo o sujeito.
Autores como Winnicott mostraram que, quando não encontramos no início da vida um ambiente estável e acolhedor, podemos carregar angústias primitivas de desintegração, que mais tarde ressurgem em momentos de perda, separação ou sobrecarga. Na visão de outro psicanalista chamado Wilfred Bion, esse ambiente mais ou menos suportivo com as ansiedades, criaria um protótipo para uma maior ou menor capacidade interna de conter as próprias ansiedades e dores. Ele destaca a importância do cuidador poder “sonhar” junto com o bebê para que ele consiga melhor identificar o que está se passando dentro dele.

Podemos dizer que essa também é a função de uma análise, poder viver junto com o paciente suas ansiedades mais primitivas, ir construindo com ele a possibilidade maior de suportar suas ansiedades, dar nome e sentido a elas, e a capacidade criativa de transformá-la.
Diferente da visão puramente médica ou comportamental, a psicanálise não entende a ansiedade apenas como algo a ser eliminado, mas como uma via para compreendermos mais profundamente nós mesmos. O trabalho clínico não é apenas aliviar os sintomas, mas dar sentido ao que a crise revela, ajudando a transformar a experiência caótica em palavras, compreensão e, pouco a pouco, fortalecimento psíquico.



